A sustentabilidade é uma das maiores preocupações actuais, no topo das prioridades de várias gerações. Aprenda com a Mariana Guerra, um pouco mais sobre a sustentabilidade alimentar e as suas pegadas carbónica, ecológica e hídrica!
Sustentabilidade No Prato: A sustentabilidade é uma das maiores preocupações atuais. De uma forma muito resumida e simplista, consiste em utilizar a natureza para atender as necessidades da sociedade sem comprometer as gerações futuras.
A promoção da sustentabilidade é um desafio atual e nos dias de hoje é impossível dissociar a sustentabilidade da produção alimentar.
Uma alimentação sustentável tem de ter baixo impacto ambiental, proteger e respeitar a biodiversidade e o ecossistema, otimizar os recursos naturais e humanos, ser culturalmente aceite, nutricionalmente adequada, acessível para a população, segura e economicamente justa.
Assim sendo, é urgente repensar a forma como nos alimentamos e do que nos alimentamos, pois estudos apontam para que em 2050, seja necessário produzir mais 60% de alimentos.
Sabia que 1/3 das emissões mundiais de gases com efeito de estufa provem dos sistemas alimentares? O que comemos é determinante para a sustentabilidade do planeta!
Não é uma tarefa simples calcular o impacto ambiental de cada alimento e não devemos fingir que o tema da sustentabilidade alimentar não é um tema complexo.
Cada produto tem um ciclo de vida distinto, com diferentes modos e tempo de produção, faz uso de diferentes recursos, é sujeito a modos de transportes e distâncias variáveis e produz diferentes emissões quer diretas como indiretas. Há assim dificuldade em quantificar e comparar diferentes alimentos.
Neste artigo vamos focar-nos nos 3 principais componentes: pegada carbônica, pegada ecológica e pegada hídrica.
Pegada Carbónica
Conjunto total de emissões de gases com efeito de estufa, expresso em toneladas de CO2 emitidas durante o ciclo de vida de um alimento.
No cálculo da pegada carbónica de um alimento, são consideradas todas as variáveis desde que é produzido até ao momento de consumo, tais como a desflorestação para produzir a pastagem, as emissões da produção, a alimentação dos animais, o processamento, o transporte, o embalamento e a venda.
Sabe-se que por ano, o abastecimento alimentar gera 13,7 bilhões de toneladas de equivalentes de dióxido de carbono, sendo a carne, os lacticínios e os ovos os maiores contribuidores.
Só a pecuária representa 14% do total das emissões mundiais e para agravar esta situação, 20% da carne produzida anualmente no mundo (263 milhões de toneladas) é desperdiçada.
Pelo gráfico é possível verificar que para cada grama (g) de carne de vaca são emitidos em média cerca de 200g de equivalentes de CO2, enquanto que para cada grama de frango a emissão média de equivalente CO2 é cerca de 25g, ou seja: 8x inferior.
Curiosidade: 1kg de carne de vaca produz 60 kg de gases com efeito de estufa, quase duas vezes e meia mais que o borrego, 60 vezes mais que milho e 120 vezes mais que cenouras ou batatas, para além da pegada hídrica (15,500L de água) e a vasta utilização de solo.
Por outro lado, também as nossos estilos nutricionais têm impacto no ambiente.
Se quiser pensar no impacto das escolhas alimentar que fazemos, note que:
- Consumir menos carne e lacticínios, trocar a carne de animais ruminantes (vaca, ovelha, borrego, cabra, veado) por carne de porco, coelho, frango, perú ou pato ou ter uma alimentação vegetariana/vegana diminui a pegada carbónica.
- A emissão carbónica de uma alimentação plant-based é entre 10 a 50 vezes inferior às dietas à base de carne.
- Alimentos como maçãs, citrinos, tubérculos, bananas, ervilhas e bebida de soja têm menos de 1kg CO2/ Kg produto.
Apesar de grande parte (83%) das emissões de gases de efeito de estufa ocorrerem na produção, o impacto do transporte não deve ser ignorado, embora possa ser menor do que possamos pensar.
O transporte corresponde a 11%, daí que alterar os padrões alimentares para uma alimentação plant-based tenha mais impacto do que consumir produtos locais.
Exemplo: Para um consumidor inglês, fará mais sentido comprar borrego produzido em Inglaterra ou na Nova Zelândia?
- Contrariamente ao que seria de esperar, o borrego vindo da Nova Zelândia tem uma pegada carbónica menor porque as fazendas na Nova Zelândia utilizam energia hidroelétrica. Mesmo com um transporte de mais de 17.000km via marítima até ao Reino Unido, a pegada de carbono é menor.
De igual modo com,
- É preferível transportar um tomate proveniente da América do Sul, cultivado ao ar livre na sua época, do que plantá-lo numa estufa e ser produto nacional.
- Importar alface de Espanha para o Reino Unido durante o inverno tem 3 a 8x menos emissões carbónicas face a produzir localmente.
Isto porque utilizar métodos de produção com uso intensivo de energia, como estufas ou recorrer a cadeias de refrigeração longas de forma a armazená-los por vários meses, tem quase sempre maior pegada que a importação, devido ao menor impacto do transporte face o da produção.
Para quem faz uma alimentação vegana, o transporte acaba por ter um maior impacto na pegada carbónica, uma vez que a pegada de produção é muito inferior, acabando o transporte por ser mais significativo.
Quanto ao transporte, os navios de carga são os mais eficientes, seguidos dos comboios, camiões e, por fim os aviões.
A pegada carbónica do transporte por avião chega a ser 70x superior para 1 tonelada de alimentos quando comparada com o transporte por navios. Este é um dos motivos pelo que poucos alimentos são transportados por via aérea (por norma apenas alguns vegetais, como os espargos ou fruta como bagas por serem mais sensíveis ou alguns frutos tropicais).
Pegada Ecológica
Superfície da terra (ha), biologicamente produtiva e água necessária para substituir os recursos utilizados e absorver os resíduos produzidos em relação à capacidade da Terra de regenerar os recursos naturais.
A alimentação é o que mais pesa na pegada ecológica em Portugal!
Infelizmente, Portugal é o país do Mediterrâneo com maior pegada alimentar per capita, com a alimentação a representar 30%, dos quais a carne, principalmente a de vaca e o peixe ocupam metade do peso dessa pegada. Isto acontece, porque Portugal está muito dependente da importação, importando 73% dos alimentos.
Um estudo realizado pela Universidade de Aveiro em 2020, apurou que no topo da importação estão o “pão e cereais” (86%), “açúcar, compota, mel e chocolate” (78%) e “gorduras alimentares” (72%), oriundos principalmente de Espanha, França, Brasil e China.
A importação de vegetais e fruta ronda os 66%, a de peixe 60%, a de bebidas alcoólicas e não alcoólicas 54%, a de carne 46% e a menor importação é de laticínios (36%).
Em Portugal, o consumo médio individual de peixe é superior a 60kg/ano, alcançando o terceiro lugar a nível mundial. Embora Portugal tenha uma vasta costa e área marítima e o consumo de peixe faça parte da nossa cultura, 60% do peixe consumido em Portugal é importado, vindo principalmente de Espanha, Noruega, África do Sul, Senegal e Suécia.
Quanto às espécies de peixe, o bacalhau, atum e salmão são os que têm maior pegada ecológica. Assim, uma simples troca no prato de bacalhau por cavala, tem impacto ambiental significativo.
Pegada Hídrica
Quantidade de água doce utilizada para a produção de um alimento.
Segundo a WWF, a produção alimentar consome 69% da água doce. Por este motivo, apesar de menos discutida, a pegada hídrica deve ser tida em consideração no momento da compra dos alimentos.
Curiosidade: São precisos 2.000 a 5.000 L água/dia para produzir os alimentos que cada pessoa consome num dia.
Relativamente à pegada hídrica, Portugal é também o país da UE que tem maior pegada hídrica per capita, sendo que 80% da nossa pegada hídrica enquanto consumidores está relacionada com o que comemos.
Os produtos de origem vegetal têm uma pegada hídrica menor comparativamente com os produtos de origem animal e sabe-se que em Portugal o consumo de produtos animais é muito superior aos de origem vegetal.
Dos alimentos com maior pegada hídrica destacam-se o chocolate, a carne (principalmente a vermelha), os laticínios e as azeitonas.
Por outro lado, a pegada hídrica de um mesmo alimento é diferente em diferentes países, uma vez que existe a pegada hídrica direta e a indireta.
Por exemplo, para 1kg de abacates produzidos na América do Sul, são necessários 2.000L de água, ou seja, 10x mais do que para produzir 1kg de tomates. No entanto, os dados mostram que a produção de abacates no Algarve tem a mesma pegada hídrica que os citrinos.
Este é um exemplo de um alimento, cuja preferência por um produto nacional quando sazonal traz muitos benefícios. Infelizmente, grande parte dos abacates que consumimos em Portugal são oriundos do México, Peru, Espanha e África do Sul.
Resumindo…
A sustentabilidade alimentar é um tema complexo e que não se resume apenas a um aspeto. É multidisciplinar e engloba várias perspectivas, tais como a pegada carbónica, ecológica e hídrica.
Mas afinal, o que é um alimento sustentável? Segundo a FAO, deve ser produzido recorrendo a métodos que respeitem o ambiente e os animais, deve ser local e sazonal, de preferência adquirido diretamente aos produtores, deve ser não processado (para minimizar a quantidade de recursos necessários) e que respeite o bem-estar do ambiente, dos animais, dos produtores e consumidores.
Se quisermos tornar a alimentação mais sustentável, enquanto consumidores, podemos começar por seguir estas 6 recomendações:
- Privilegiar os alimentos de origem vegetal,
- Preferir carne de animais não ruminantes,
- Comprar fruta e legumes sazonais e de produção local,
- Evitar comprar alimentos que tenham sido transportados de avião,
- Evitar comprar alimentos ultra-processados e embalados,
- Não desperdiçar alimentos.
Mariana Guerra
Estudante de Ciências da Nutrição
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